terça-feira, 13 de junho de 2017

Barco à vela (Agostinho Fortes)

Ando perdendo a cabeça pensando só nela
Ela fazendo a minha cabeça girar
Hoje cedo quando eu fui abrir a minha janela
Eu pensei que era ela que vinha
Voando, cantando e sorrindo no seu barco à vela
Claro que ainda sou dono da minha razão
Quando a vejo, eu juro que sinto trincar a costela
E o meu coração quase surta
Brecando, cuspindo, engasgando até que congela
Claro que ainda sou dono da minha aflição
Eu confundo, eu erro, tropeço e bato a canela
Quando saio correndo pensando
Que é ela com meu coração já em alguma tigela
Ela fazendo a minha cabeça gritar
Hoje cedo quando eu fui abrir a minha janela
Era uísque, era ela, era tudo
De novo na minha cabeça e no seu barco à vela
Claro que tenho o controle da situação
Lanço a minha cabeça no abismo e acendo uma vela
Que é pra ver o nome dela sumindo
De vez e descendo ardendo pela minha goela
Claro que já não me importa a minha digestão
Hoje cedo quando eu fui abrir a minha janela
Eu pensei que era ela, era outra
Era aquela que eu vi outro dia naquela novela
E claro que minha cabeça é só confusão
A paixão é uma febre divina que deixa sequelas
E é por isso que eu sofro, que eu amo
E guardo no fundo e confundo quase todas elas
Lá lá laiá lá laiá lá laiá lá laiá ...

domingo, 4 de junho de 2017

Lar (Agostinho Fortes)

Nas várzeas, montanhas
Nas vilas, nos vales
Nas minhas entranhas
No fundo dos mares
Em alguma estrela
Eu sei que vou te encontrar
Meu verdadeiro amor
Meu verdadeiro lar

Nos sonhos, ideias
Nos palcos, plateias
Entre mil pagantes
No alto dos Andes
Em alguma costa
Eu sei que vou te avistar
Meu verdadeiro amor
Meu verdadeiro lar

Nos pólos, nos centros
Nos solos sangrentos
Debaixo da terra
No meio da guerra
Num poço profundo
Eu hei de te resgatar
Meu verdadeiro amor
Meu verdadeiro lar

Nos prados, fazendas
Mesquitas, capelas
Pecando e rezando
Em alguma delas
Ao luar num banho
Eu sei que vou te flagrar
Meu verdadeiro amor
Meu verdadeiro lar

E se eu demorar
E se a vida quiser
E a sorte puser
Você num altar
Eu pego um avião
E vou então te salvar

Esqueço as várzeas
Os vales, os sonhos
Plateias, pagantes
Os pólos, os prados
Mesquitas, capelas
E corro para evitar
Que essa sorte maldita
Decida com quem vais ficar