domingo, 2 de julho de 2017

Cada palavra (Agostinho Fortes)

Cada palavra que eu aprendia
Guardava só pra ti, pra ti
Quantos poemas que eu decorava
E hoje já esqueci

Faziam revoluções
Lá no seu coração
Muitas palavras
Tu nem conhecias
Mas gostavas do som

Com quantas palavras eu me perdia
Tentando te traduzir, fingir
Com palavras sérias e versos profundos
Que só te faziam rir

Cultivavam plantações
Lá no seu coração
De lindas orquídeas
Que inda hoje perfumam
A tua nova paixão

Tantas poesias que eu não compreendia
Mas as recitava bem, tão bem
Palavras tão raras e que eu escrevia
Hoje não me fazem bem

Outras palavras ruins
Vieram depois
De uma nuvem negra
Despencaram certeiras
Violentas sobre nós dois

Com duras palavras nos afastamos
Estranhos nos tornamos, gritamos
Reles palavras ficando mais curtas
Até que nos calamos

Tantas palavras vis
Feitas pra trucidar
Como a peste negra
Nos contagiaram
Com uma febre de calar