quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Me diz (Agostinho Fortes)

Diz quem foi que fez esse dia a dia
E inventou o tal do despertador
Diz pra que toda essa correria
Que não tenho tempo pro amor
Diz quem foi que inventou toda essa lida
E esqueceu de inspirar o trovador

Me diz, me diz
Me explica por favor
Como é que faz pro nosso amor
Nunca mais acabar

Diz quem foi que fez essa gente rica
E esqueceu do pobre trabalhador
Diz como é que tem água na piscina
Se lá no açude já secou
Diz quem foi que curou na medicina
O primeiro doutor que se formou

Me diz, me diz
Me explica por favor
Como é que faz pro nosso amor
Nunca mais acabar

Diz quem é que na vida pôs os trilhos
Que o meu vagão descarrilhou
Quem contou meu futuro à cartomante
Que o meu casamento ela errou
Afirmou o dia da minha morte
Que há muito tempo já passou

Me diz, me diz
Me explica por favor
Como é que faz pro nosso amor
Nunca mais acabar

Diz quem é que escolheu a cor do mar
E os seus olhos da mesma cor pintou
Diz onde é que o vento faz a curva
Que já passou reto e não parou
Se o amor é uma coisa que acaba
Ou vai virando sempre um novo amor

Me diz, me diz
Me conta por favor
Qual o segredo de um amor
Que nunca há de acabar

Diz pra que tanta tecnologia
Você vidrou no computador
Mas só eu que esbanjo alegria
E posso chorar a minha dor
E só eu que posso morrer na vida
E sou filho de Deus Nosso Senhor

Me diz, me diz
Me beija por favor
Pra eu sentir que o nosso amor
Nunca vai acabar

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Nosso fim (Agostinho Fortes)

Eu sei que ela me amou
E o quanto insistiu
As vezes que ela orou
E as vezes que desistiu

Eu sei que ela revidou
Com outro me confundiu
E a gente se mereceu
E a gente fez que não viu

Eu sei que já me enterrou
Nalgum terreno baldio
E lá o mato cresceu
Com cheiro de amor vadio
E é lindo, que lindo

De cara ela se entregou
E aos poucos ela partiu
Por tantas me perdoou
Por outras ela fingiu

Eu sei que já me enterrou
Nalgum canto de jardim
E lá brotou uma flor
Zelosa do nosso fim
E é linda, que linda

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Teu vigia (Agostinho Fortes)

Quando eu tiver enfim que partir
Quando eu vir minha hora chegar
Dá-me um sorriso manso
Sussurra um segredo
Que eu possa comigo levar

Quando eu não estiver mais aqui
Não quero te ver sempre a chorar
Quero um luto breve
E um pranto leve
Que a brisa possa levar

Quando a alegria voltar em ti
Quando um sorriso te escapulir
Serei o teu vigia
Noite afora
Do meu ciúme hei de rir

Lá no recanto do peito teu
Guarda bem firme o meu lugar
E se algum maldito
Te faltar respeito
O sujeito, eu vou assombrar

Eu juro que sabia
Que uma só vida
Era curta para te amar