terça-feira, 26 de novembro de 2024

O mundo beija a morte

Exausto, com sede
Eu olho pros campos
E vejo toda a dor
Restos e rastros
Pra todos os lados
E nada mais tem cor

Olho profundo pro céu
Avisto amigos em comunhão
Viraram estrelas, brilham e caem
Organizados numa confusão

O mundo e sua sorte
O mundo beija a morte
Traição

Escuto rajadas
De noite e de dia
Dispersos são os sons
Sangue nas roupas
Nas bocas, nas louças
Misturam-se os tons

Lugar de sangue é nas veias
E não em qualquer lugar
Vou deixar minha farda, um adeus caprichado
E numa foto o meu olhar

O mundo e sua sorte
O mundo beija a morte
E morrerá

Enfim eu regresso
Mas a minha amada
Com outro se casou
Hoje eu não presto pra nada
Sonho só com granada
Com o céu que me encantou

Trago meus vícios, resquícios 
Calmante e muito pavor
Sonho com o inimigo, imagino um abrigo
Acendo a luz do corredor

O mundo e sua sorte
O mundo beija a morte
E a flor

Escuto barulhos
Acendo um cigarro
Me fecho no meu quarto
Não sou mais daqui
Nao sou nem dali
Fujo feito um rato

Lugar de doido varrido 
É bem longe de qualquer lugar
Sonho com o inimigo, invento um amigo 
E morro na mesa de um bar

O mundo e sua sorte
O mundo chama a morte
Pra dançar









quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Não chore não

Não chore não
A casa está vazia
E seu coração
À revelia

Sua filha casou, você sempre quis
Seu filho é doutor e quase feliz
O marido partiu com outra mulher
Você pode fazer o que bem quiser

Não chore não
A casa é de alegria
Você tem tanta vida
Pode entrar quem quiser
Coloque um belo vestido
Esqueça do seu ex-marido
Invente uma nova mulher

Não chore não
Se levante querida
Você tem tanta vida
Tem tanto coração
Coloque seu sorriso no rosto
Que depois que estiver posto
Seu mundo será só paixão

domingo, 10 de novembro de 2024

Nina

Nina não vem pra casa
E quer o mundo ganhar
Às vezes é bailarina
Outras se alucina
Mas nunca quer voltar

Nina já amou um nobre
Vassalos e soldados
Teve um belo de um castelo
Teve um casebre singelo
E dias ensolarados

Nina está foragida
Ou vive um grande amor
Diz que é uma artista
Cantora e boa sambista
Dissimula a sua dor

A vida dela é confusa
Entre sonhos e realidade
Não sei se é feliz
Mas os sonhos dessa atriz
Contagiam a cidade

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Cheios de cor

Tens os olhos cheios
De cansaço e dor
O amor não te valeu a pena
Tens os olhos cheios
Também de rara cor
A vida ainda vale, morena

Vem ver o sol nascer
Vem ver e ser feliz
Vem ver que eu estou morrendo
Por saber que os olhos teus
Sofrem por amor
E não percebem os meus sofrendo



domingo, 3 de novembro de 2024

Desde que o amor partiu

Desde que o meu amor partiu
Nunca mais fui de ninguém, ninguém viu
Mal saio de casa, tudo se perdeu
Já não vejo, não falo e nem sinto, é tudo um breu

Depois que o meu amor mentiu
Meu coração virou gelo, ninguém viu
Morreram meus planos, nunca mais vou amar
Só desejo uma praia deserta sem sol e sem mar

Depois que o meu amor me traiu
Sonhei um sonho estranho, ninguém viu
Ele era sem nome, sem juízo ou pudor
Brutalmente fitava meus olhos com muito fervor

Vivo até hoje sem me entender
Desejo ou luto ou vingança, não sei dizer
Sigo sonhando alto, porém vivendo por baixo
Só nos braços desses sonhos meus, eu me encaixo

sábado, 2 de novembro de 2024

Essa mulher

Quando algo ela quer
Me lança alguns sutis sinais
E se faz bonita e mais mulher
Mas se faz mulher demais

Se quer um novo vestido
Logo ela vem dançar comigo
Mas se quer mais uma viagem
Me fala nos ouvidos sacanagem

Se quer um novo colar
Desses que não se pode pagar
Me aparece nua sobre a mesa
E diz que está pronto o jantar

Perfura a minha armadura
Estraga o meu pobre peito
Que consente enfim sangrando
Tudo o que lhe é de direito

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Mar ateu

Não há promessas
Nem ondas há
Não há aqui Yemanjá
E os namorados
Jamais se beijam
Jamais velejam por esse mar

Os pescadores 
Não pescam cá
Nem gaivotas no mar ateu
Intensa bruma
Só desventura
Só há naufrágios, só há adeus

As cinzas minhas
Quando eu me for
Não joguem não no mar ateu
Eu quero um mar
De ondas divinas
E assim tocar a mão de Deus