quinta-feira, 14 de julho de 2022

Obra-prima

Brotando do solo, o concreto
Rompendo as nuvens furiosamente e insolente
Da janela, espio dia a dia mais um teto
Cobrindo paisagens bem levemente e brevemente

Da minha fresta, já não tenho o que ver
Só ferro subindo feito trepadeiras
Raízes escapando do solo com sede
Brota um arranha-céu onde só havia figueiras

Trapezistas me oferecem um show
Pendulam e agarram-se ao céu
E o vizinho incomodado
Que se mude para o prédio ao lado

E eu sempre tonto
Só queria dormir
E acordar com tudo pronto
Mas não vou desistir

Vi aos poucos a cidade surgindo em flor
Acordei já com muita idade
Já era tarde
Do meu prédio, por fim
Agora vejo outro da mesma cor

À Primeira Vista

Quando ela olhou pra mim, eu estava muito triste sem me aguentar
E me olhou com calma e tanta ternura que me fez chorar
E lançou-me um sorriso puro como quem está a me compreender
E os seus olhos, em uma bravata, convidaram-me então a viver

Quem me diria que seria uma eterna estória e de muito amor
Nascida de outras vidas tantas e que se ergueria ante qualquer torpor
E a nossa eternidade nos traz a saudade de quem já partiu
E por mais que os dias passem, fica o primeiro em que ela me viu

terça-feira, 21 de junho de 2022

Cantemos

Dança, que brota uma flor
Canta, que espalha o amor
Canta a paz
Que estamos com mágoa até o pescoço
Sinto a fome em cada osso
 
Canta, que recolhe o povo
Dança, que exorciza a dor
Canta a paz
Que já é profundo o fundo do poço
Quero ver o céu de novo
 
Canta a santa alegria
Canta uma Ave Maria
Canta a paz
Como um peregrino confundindo hinos
Canta tudo todo dia
 
Dança, que os males espanta
Canta a leve fantasia
Canta a paz
As flores da vida, as cores do dia
Um acalanto, a poesia
 
Canta semeando a força
Canta, recolhe a matilha
Canta a paz
Todo pão e vinho, canta e compartilha
Canta em sincronia com a sinfonia
Canta e grita e dorme em paz
Canta