domingo, 15 de dezembro de 2024

Glamour

Vivo por aí
Canto pelos cantos
Durmo em qualquer cama de hotel beira de estrada
Choro de saudade e por nada

Lembro-me de ti
Na platéia cheia
De tantos sorrisos e aplausos que vivi
Rio de uma gente que esqueci

Belos velhos tempos
Em que fui rainha
Hoje vivo de memórias e das minhas ladainhas
A minha platéia é nas esquinas

Tive meu glamour
Sangue e furor
Hoje o meu corpo é solidão e é torpor
É tanta preguiça e guarda amor

Tive um grande amor
Sangue e furor
Hoje o meu corpo é saudade e lembrança
Ainda é tanto palco e tanta dança

Vem me dar um beijo e me trazer os anos
Traz o meu soprano e os meus tons insanos
Renasce, ó meu Romeu, acende a minha brasa
Faz outra vez do anfitiatro a minha casa
Pelo amor de Deus
Pelo amor de Deus

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

A nossa estória

Amor, eu estou indo embora
O tempo acabou, já foi nossa hora
No teu olhar eu vejo adeus e desleixo
Não há festa, não há beijo
Não há luz, nem memória

Querida, mesmo que a boca se cale
Teu olhar denuncia um silente desfecho
E por respeito aos teus olhos, às tuas preces e teus medos
Eu me recolho, dou passagem aos teus desejos
E te deixo com amor

Pois a nossa estória é linda
Verdadeira e carinhosa
E teve lá os seus espinhos
Como qualquer rosa

Pois a nossa estória
Que sonhaste tão eterna
Há de se transformar 
Em uma paz interna

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Junto a ti

Junto a ti, eu pretendo passar a vida
Aguentar as tuas longas noites, aflita
Eu vou cozinhar aquele feijão
Vou me arrumar para o teu coração

Junto a ti, eu pretendo chorar a vida
Te amar da forma por mim prometida
Vou te adorar, vou te esconjurar
Vou te dar um beijo, vou brigar e também te negar

Junto a ti, eu pretendo amar a vida
Aguentar as noites de um rapaz sambista
Com muito carinho, te boto nos trilhos
Te dou compromissos e também um bocado de filhos

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Espero o mar

Há tanto tempo espero o mar
Uma corrente
Que carregue bruscamente
O nosso barco por aí

Faz tanto tempo sem ventar
Intensamente
Um vento assim de repente
Que me faça enfim sorrir

Nos prenderam nessa terra
Nessa pedra, nessa areia
Nos vendaram, nos calaram
Arrancaram nossa veia

Quero ver o barco atravessar
Com a nossa gente
E as velas enfunadas
Encarando o alto mar

terça-feira, 26 de novembro de 2024

O mundo beija a morte

Exausto, com sede
Eu olho pros campos
E vejo toda a dor
Restos e rastros
Pra todos os lados
E nada mais tem cor

Olho profundo pro céu
Avisto amigos em comunhão
Viraram estrelas, brilham e caem
Organizados numa confusão

O mundo e sua sorte
O mundo beija a morte
Traição

Escuto rajadas
De noite e de dia
Dispersos são os sons
Sangue nas roupas
Nas bocas, nas louças
Misturam-se os tons

Lugar de sangue é nas veias
E não em qualquer lugar
Vou deixar minha farda, um adeus caprichado
E numa foto o meu olhar

O mundo e sua sorte
O mundo beija a morte
E morrerá

Enfim eu regresso
Mas a minha amada
Com outro se casou
Hoje eu não presto pra nada
Sonho só com granada
Com o céu que me encantou

Trago meus vícios, resquícios 
Calmante e muito pavor
Sonho com o inimigo, imagino um abrigo
Acendo a luz do corredor

O mundo e sua sorte
O mundo beija a morte
E a flor

Escuto barulhos
Acendo um cigarro
Me fecho no meu quarto
Não sou mais daqui
Nao sou nem dali
Fujo feito um rato

Lugar de doido varrido 
É bem longe de qualquer lugar
Sonho com o inimigo, invento um amigo 
E morro na mesa de um bar

O mundo e sua sorte
O mundo chama a morte
Pra dançar