No rio ali defronte
Toda a correnteza corria
Todos os peixes havia
No rio ali defronte
E o velho, cá do alto do monte
Na sua cadeira de balanço que rangia
Com seus olhos marejados de vigia
Admirava o rio ali defronte
Lá, toda rede se lançava
Todo parto se fazia
Toda sede se matava
Batizados, noite e dia
E o velho via cá do monte
Toda moça que se banhava
Também a roupa que se lavava
Naquele rio ali defronte
Um dia, o velho do alto do monte
Não mais veio à sua varanda
E ninguém sabe por onde anda
O vigia, que vivia ali defronte
E, então, o rio secou
Reza a lenda que as lágrimas do velho
Eram do rio a fonte
Aquele rio que não tinha margens
Muito menos ponte
Um rio que vinha não sei de onde
E que só no sonho do velho existia
Pois nem eu, nem ninguém sabia
Que aquele rio ali defronte
Era o rio das saudades
Das saudades de uma vida
Que vivia lá no monte
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