Foi um
quebranto, mandinga ou encanto
Que me acometeuEu na beira do rio e ela sorriu
Era só ela e eu
Deu-me a boca,
beijou-me louca
E desapareceuPassei a ver e só eu que via
Gente que já morreu
Vi criaturas,
fogo nas alturas
Ao lado de um
serafimJurupari entrou no meu sonho
E o sonho não tinha fim
Vi Iara espalhando seu mais lindo canto
Seu chamado sedutor
Vi, em seus braços, pobre e feliz
Um jovem pescador
Naquelas águas, na calmaria
Vi morte e amor
Mula sem cabeça, antes que eu me esqueça
E a Cuca me pegou
Matita Perê,
sei, ninguém vai crer
Mas ouvi
assobiarNuma rajada de vento na cara
Saci sabe assustar
Sumiu meu fumo,
sumiu a pinga
Até mesmo o meu
alentoVi as pegadas de Curupira
Sumindo mata adentro
Boitatá me
cegou, nem vi, me queimou
E o boto rosa a
dançarDeixou as raparigas cheias de barriga
Roubou até o meu par
Mas certa noite
a lua veio
Pra tudo alumiarDe tal maneira que toda a cidade
Enfim se pôs a cantar
Sumiram
fantasmas, voaram as bruxas
Comeram-se os
canibaisNão sei explicar, mas tais criaturas
Nem eram meus rivais
Foi assim que
perdi a velha mania
De nunca, jamais
crerNo que claramente, bem claramente
Meus olhos não podem ver
Então vi mais
fundo, vi mais o mundo
Mais lindo e
muito maisVi o amor, seu cheiro e cor
Enfim minha fé em paz
Bendita
mandinga, bendito quebranto
Que me acometeuBendita Iara, seu beijo e canto
Bendito seja Deus
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