segunda-feira, 16 de junho de 2025

Paz forjada

Quem só lhe agrada excessivamente, mesmo diante de seus erros

Esses incansáveis e suados apertos de mão

Quem não lhe corrije pela frente

Quem, sabendo dos seus medos, lhe manipula

Esse não lhe quer bem, quer mal, é mau

Prefira o que lhe esgana, quando você faz merda
Aquele que grita loucamente até ficar rouco e lhe corrigir

Prefira esses, que parecem maus, pois caminharão à beira do abismo, lado a lado contigo, mas jamais o empurrarão.

Prefira o grito louco e rouco, a discussão, o sangue na espada. Prefira o olhar violento a uma paz forjada!

domingo, 15 de junho de 2025

Pra minha amada (Agostinho)

Tenho sonhos a realizar
Tenho um medo da vida
Tenho tempo para gastar
E a semana corrida

Tenho uma casa que é bela e viva
Tenho uma linda família
Tenho uma vontade de sumir
Fugir pra uma ilha

Tenho um corpo que quer descansar
Na cadeira mais esquisita
Tenho outro cheio de vida
Que só agita

Tenho vontade de vaguear
Viajar, conhecer
E vontade de me espreguiçar
Permanecer

Sou um rei e um vagabundo
Minha agenda é danada
Sou um trabalhador fecundo
Sem tempo pra nada

Sou assim esse ser volúvel
Quero tudo e um pouco do nada
Sou assim esse ser incrível
Pra minha amada

Olhar medonho

Tens um riso que é um sonho
Tens um olhar medonho
Que também é cheio de graça
Tens os pés pela praça

Andas por todos os mundos
Teu rosto é belo e profundo
Teus lábios são de carne tão cheios
Pernas, nuca e seios

Morena, eu quero teu sorriso medonho
Casar, morena, é o que eu te proponho
Na igreja, na areia, no barco ou no sonho
Prometo carinho e um caminho risonho

sábado, 14 de junho de 2025

Balaio

Pôr tudo no mesmo balaio
Mágicos, poetas
Atores, profetas
Cartas e ensaios

Pôr tudo no mesmo caos
No mesmo balaio
Mais de mil instrumentos
Escuto e me distraio

Pôr tudo no mesmo balaio
Um filósofo ébrio
Um louco e seu ensaio
Um palhaço bem sério

E súbito sem pretensão
Surge desse balaio
O que se chama arte
E vem do coração

Alvorada (Agostinho)

Natureza, elegância e beleza
Os teus campos verdejantes
Tua força e correnteza

Alvorada, tuas cores são sagradas
Não me deixas dissabores
Incessantes alvoradas

Na estrada são só campos verdejantes
Eu lhe faço este poema
Uma visão de um viajante

Ondas claras, um azul de ondas claras
Vejo mares, vejo estrelas
Vou seguindo pela estrada

Alvorada, lembras-me de alguns amores
São tão lindas tuas cores
Mas cheguei ao fim da estrada

Alvorada, alvorada
Por fim chegamos ao fim da estrada

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Coração descartado

Ah, meu coração dilacerado, destroçado, ensanguentado
Ah, desilusão, meu coração foi descartado
Na beira da estrada, estilhaço, um para-brisa arrebentado

O fim de um amor é desengano, é descuidado
Ah, meu coraçao, insensatez, precipitado
Caiu mais uma vez no mesmo abismo, fundo e macabro

Não, não faz mais não, meu coração, estou cansado
Estou na beira da estrada, atropelado, inconformado
Não, não faz mais não, quem sabe um dia me verás ressuscitado

quinta-feira, 12 de junho de 2025

A flor do deserto (Agostinho)

Ela é a flor, ela é o amor
Eu sou a dor, fúria e paixão
Eu não esperava, nem imaginei
Uma flor assim subitamente
Ela é a rainha, eu sou o rei
Ela me toca tão calmamente

Ela é a flor do chão do sertão
Ela é amor, é coração
Eu sou a dor, sou turbilhão
Ela me pega assim pelas mãos
Eu sou o mundo, sou a razão
Ela chora muito e me pede perdão

Ela é a flor, é só amor
Está cravada no meu coração
Eu sou a dor e também tesão
Ela é a flor e compreensão

Às vezes não vejo Deus por perto
Mas do meu lado tenho a santa
Abro a boca e não sai meu berro
A flor está cravada na minha garganta

Ela é a flor do chão do deserto
Prefere às vezes não ficar por perto
Tem seus espinhos, é dor e tesão
Prenhe de razão, é um turbilhão












Entre ratos

Entre ratos, drinks e uma vitrola
Vou brigando com os dias, comprei uma pistola
Meu sofá é tão sujo e tão acolhedor
Me dá um sono bom, alivia a dor

Entre falsos amigos e prostitutas
Vou fingindo os dias, ganhando disputas
Entre cigarros, cinzeiros e uma cama
Bebo o meu uísque e uma mulher que me ama

Mas a minha vontade de viver é austera
Joga fora a pistola, os ratos e disputas
Os cinzeiros, cigarros e prostitutas
Minha vontade de revê-la é severa

Ela dorme porque escurece, eu durmo porque Rivotril
Ela na juventude, de casa, não saiu
Eu na juventude fui o jovem mais vil
Mas por ela eu acordo sem uísque ou pistola
Somos o suco da discrepância, mas ela me adora 
Me ama desde a infância, e amando esse louco, ela chora

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Cavaquinho cruel

Que covardia
Quando me chamam pra um choro no morro
E eu que sou da boemia
Subo correndo e não sei por que corro

Vontade de morro
De batucar e cantar um choro
Que alegria, tocar Cartola e Noel
Mas que mania de tocar um cavaquinho cruel

Não há aqui piano
Nem fulano fala mal de sicrano
Quero um pandeiro
Fazer mil sambas o ano inteiro

Viva Cartola, viva a minha escola
Lá na mangueira, vou tocar muita viola
Ser um poeta, desses da pesada que nunca chora
Falar bem de Cartola e de manhã ir embora

Descer a ladeira, por isso choro
Mas quem é da quebrada, não se lamenta e nem chora
Joga capoeira, cai e se levanta na hora
Meu cavaquinho já dormiu antes da aurora

Boa noite pra quem não dorme
Boa noite pros poetas de outrora
Boa noite pra quem assiste a aurora
Boa noite pra quem não perde a hora
Pra quem não samba, pra quem não entra na roda
Boa noite, Cartola!

terça-feira, 10 de junho de 2025

Como vai?

- Como vai? Quanto tempo!
- Vou indo e você?

- Vou bem. Cara de cansado, trabalhando muito?
- Não, fui despedido e durmo muito.

- E o casamento?
- Separei.

- Que horrível!
- Ter casado? Sim, foi. Mas passou. Foi só um resfriado. As pessoas costumam chamar de pneumonia. Acho isso um pecado.

- Mora onde agora?
- Na minha Kombi.

- Não é possível!
- O que? Viver viajando como um andarilho pelo mundo? É possível.

- Você gosta da vida?
- Não. Gosto dos meus sonhos, gosto de pintar um quadro, trepar gostoso e inventar o meu viver.

- Não fica triste nunca?
- Não, escrevo poesias. Tomo um banho quentinho. E você? Gosta da vida?
- Rapaz, pensando bem, acho que estou na merda e nem sabia.

Caça

Eu não vou pra ali
Eu não vou pra lá
Pare de falar
Pode desistir

Não quero que saiba
Onde é que estou 
Ou pra onde vou
Pare de insistir

Me mando pra longe
Tal qual faz um monge
Me mando pra lua
Imprudente e nua

Se me questionar
Onde é que estou
A cada instante
E pra onde vou

Vou pra bem distante
Deixe-me ser livre
Ser uma eremita
Em qualquer lugar

E se vasculhar
Toda a minha vida
Cheirar os meus rastros
Não vai adiantar

Mas se me esquecer
Se não me caçar
Se me entender
Quem sabe vou ficar

Rei do salão

Rapaz, és o rei de todo o salão
És quem manda na multidão
És o dono do Rio, das praias
És quem manda em toda nação
És o galã das moças de saias

Rapaz, mas o que o dinheiro não faz?
Tens o que quer, ouro e harém
Quem te vir vai querer também
És sultão, imperador, paxá
Faustoso até no modo de olhar

Rapaz, quem sempre deu as cartas
Parece agora perder o jogo
No harém elas estão fartas
Desse teu amor por uma só
Que te arrebatou e te deu um nó

Será o teu fim ou será enfim tua salvação?
Já não queres ouro, pois o teu tesouro é um baú de paz
Já não és tão mau, pois gostas do bem que esta mulher te faz

Rapaz, mas que final feliz
Você real e ela tão atriz
Ela vai te redimir
Ela vai te envenenar
Te abraçar e depois partir

Agora me conta que estás sem dinheiro
Estás sem mulher
És um forasteiro, mulambo aventureiro, sem uma paixão
Sem saber direito até o que quer, nobre coração
A paz ...



domingo, 8 de junho de 2025

Estórias

Ali naquela mesa ele contava estórias
Às vezes me dá branco, mas são muitas memórias
Estórias de guerra, muitas aventuras
Viagens pelo mundo, lutas com criaturas

Às vezes era herói e salvava todo o mundo
Outras um poeta e tanto que ia lá no fundo
Hoje tenho saudade dos contos de meu pai 
Um bravo almirante, guerreiro samurai

Um dia o encontrarei pra ouvir mais peripécias
Sentados lá no céu, trocaremos novas idéias
E os anjos vão dormir ouvindo uma novela
E o céu vai se apagar de forma bela e singela

Maria

Meu coração chora baixinho
E bate na cadência da minha tristeza
E vai batendo lento e fraco, pois já não estás sobre a minha mesa
É que sonhei em me casar contigo e pra sempre sermos namorados
Agora vivo aflito e com a alma desvairada, sempre acordado
 
Deixaste em mim uma ferida indelével
Um abismo desses muito loucos
Minha Maria volta logo, vê se me perdoa e me ama um pouco
É que sonhei em me casar contigo e morar numa bela cabana
Agora vivo acovardado, não ouso sair nessa cidade insana
 
Maria, já fazem mil anos e ainda te espero com meu coração
Estou um pouco mais velho e às vezes durmo mesmo no porão
Fazem tantos anos que não saio nem pra ver o sol ou um pouco da vida
E hoje alguém bateu à porta e pra minha surpresa era você querida
E trouxe contigo os nossos netos, as nossas lembranças e fotografias

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Tudo

E tudo é Rio, tudo é mar
Sao montanhas sem fim a desmoronar
Sobre o meu olhar
Sobre os meus lamentos
Sobre um braço de mar
Que me fazem chorar

Aqui faz um frio que aflige
Do peito estreitar e de tudo parar
Lembrei do meu Rio
Pra esquecer do frio 
Pra sorrir, pra chorar, 
Pra esquentar

E tudo é Rio, é saudade
Meu Rio que não é só iniquidade
É a galera no bar
É a osciosidade
Tudo é Rio e o Rio 
É sempre saudade

E tudo é Rio, tudo é neve
Mesmo aqui em Moscou com o peito constirpado
Eu vejo o Rio 
E você ao meu lado
Vejo as praias, o mar
Já me sinto cansado

Estou voltando pro Rio
Por um sorriso qualquer, por uma bela mulher
Deixo a vodka quente
Por um chopp gelado
Por uma voz eloquente
E o Maraca lotado

Estou chegando no Rio
Quero um verão de pecados, toda a gente misturada
Católicos, crentes
Quero toda a nudez
Os falsos videntes
E o samba da vez

Cheguei por fim e agora
Agora é só mar
E as montanhas
E meus lamentos a desmoronar
É o frio, a saudade e a osciosidade
É a neve, é Moscou
É um chopp gelado
É o teu show sempre ao meu lado
São católicos, crentes
E falsos videntes na roda de samba
É um verao de pecados
Por todos os lados, tem gente que ama
Só gente que ama
São praias geladas
São vodkas quentes
Gente misturada

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Nunca mais

Queixa-se do mundo e da vida
Queixa-se de raiva e por mania
Deixa o casamento cair na monotonia
Deixa tudo de lado e pra depois

Depois vem me atormentar
Me acusar de tão pequenas coisas
Me chamar de concubina, de maldita
E esgarçar minha ferida

Não me queixo de nada, nada vejo
Não espero mais nada, nem seu beijo
Vou suportando os dias de um falso casamento
E o coração vai batendo sempre atento

Deixa em paz a minha dor
Que a qualquer hora de uma madrugada
Eu te deixo um bilhete, pego a estrada
E nunca mais resignada