sexta-feira, 7 de novembro de 2014
Coisa da tua solidão (Agostinho Fortes)
Brinca, se arruma, delira
Em seu guarda-roupa, qualquer fantasia
Gira querendo perder o sentido
A cada giro um outro vestido
Ela se odeia, se ama, se encanta
Repassa o batom no tom mais vermelho
Até que seus lábios só queiram beijar
Sua boca impressa por todo o espelho
Encharca-se com o melhor perfume
Estilhaça a janela pra não sufocar
Despertando nas rosas, ciúme
No beija-flor, a vontade de entrar
Prova todos os pares freneticamente
Até que um passo se mostre perfeito
Lança-se travessa pela escadaria
E se despeja nua na noite mais fria
A rua te espera
Deserta, impiedosa
E aquele alguém que ontem te fez mulher
Hoje nem sequer
Uma ligação
Pode esquecer e sofrer
Que foi tudo coisa da tua solidão
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