quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Não tem perdão (Agostinho Fortes)


Ela amou nos palácios, nos barracos, nos vãos
Ela lavou seus pecados e homens com as próprias mãos
Ela amou teu vizinho, amiga, pai e irmão
E arruinou-se nas camas, deleitou-se nos chãos
Não tem perdão

Ela bebeu as noites, cambaleou nas sacadas
Ela morreu, renasceu, seu vulto pelas escadas
Muitas caronas e filhos inesperados na estrada
Muitos vestidos cafonas, esmerados, pelada
Não tem nada

E eu que já blasfemei, hoje aclamei minha santa
É boa dona de casa, melhor ainda de cama
Mudar de vida e partir, eu sou sua salvação
Ou quer só morrer de rir, ela é minha perdição
Não tem perdão

Agora como no prato que um dia cuspi
Agora beijo as feridas que eu mesmo feri
Não falo mal do inferno, nem das meninas dali
Domingo, igreja, terno e missa pra nos remir
Deus perdoe

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