sábado, 1 de novembro de 2014

Segunda-feira (Agostinho Fortes)


Segunda-feira chegou
Me fez da cama cair
A vida queima lá fora
E já me arde bem aqui
Segunda-feira empurrou
Meu corpo ladeira abaixo
A ladeira logo acabou
E meu corpo caiu num riacho
O corpo quis afundar
No arbusto ribeirinho, encalhar
Quis se perder nos afluentes
Se esconder feito os duendes
Mas a correnteza carregou
Levou meu corpo pra serpente
Então a pálpebra oscilou
E o sol tocou a lente
Vale transporte, crachá e pente
E identidade pra virar gente
Viro o café nem frio, nem quente
- Amor, tô indo pro batente

Segunda-feira lembrou
São seis bocas pra comer
E uma ainda na barriga
Que tá com medo de nascer
Então pulo da cama
Pulo no trem
Não faço drama
Pulo os trilhos da Central
Pulo até o carnaval
Pulo o pulo
Pulo a fogueira
Vou pulando sem hesitar
Que a vida não é brincadeira

Segunda-feira deixou
A segunda-feira morrer
Deito ao lado do meu amor
Pra ver segunda padecer

Nenhum comentário:

Postar um comentário